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segunda-feira, 30 de novembro de 2015
sexta-feira, 13 de novembro de 2015
Religião deixa você feliz?
Stephen J. Dubner e Steven
D. Levitt
13/08/2014
Um episódio recente de nosso podcast "Freakonomics Radio", chamado "Religião Deixa Você Feliz?", foi produzido em resposta a uma carta que recebemos de um ouvinte. Joel Rogers, um auditor fiscal em Birmingham, Alabama, escreveu:
"Por serem batistas do Sul devotos, meus pais deram com convicção 10% de sua renda para a igreja durante toda a vida. Eu expressei recentemente minha opinião de que achava que era dar demais, e teve início uma discussão entre meus pais e eu."
"Após um pouco de altercação, meus pais reconheceram que os 10% de dízimo podem não ser o valor exato que 'Deus' espera, mas minha mãe disse algo que chamou minha atenção. Ela disse que os 10% dados à igreja os deixavam mais felizes do que qualquer coisa na qual poderiam ter gasto o dinheiro."
"Eu já li que pessoas que frequentam de forma consistente instituições religiosas são mais felizes que seus pares (que não frequentam). O economista dentro de mim diz que o dinheiro (não dado à igreja) deixaria aquele que não doa mais feliz, igualando as coisas. Logo, trocar 10% de sua renda pelo direito de participar em uma congregação religiosa aumenta ou diminui estatisticamente sua felicidade?"
Rogers está na verdade fazendo duas perguntas. Uma é se dar o dinheiro – neste caso, para uma instituição religiosa – deixa você mais feliz. A outra é se a religião em si deixa você mais feliz. Nenhuma das perguntas é fácil de responder, mas nós fizemos o melhor que podíamos.
Stephen Dubner falou com Laurence Iannaccone, um economista da Universidade Chapman, na Califórnia, que é especializado em economia da religião (e ele é um cristão evangélico). Ele tinha uma resposta direta para a primeira questão de Rogers: "Os dados que dispomos sugerem uma forte associação positiva entre as várias medições de felicidade e bem-estar por um lado, e outras medidas de envolvimento religioso, incluindo doação, por outro".
Logo, quem doa mais, ao menos entre os cristãos nos Estados Unidos? Segundo Iannaccone, as denominações protestantes conservadoras tendem a ser as mais generosas, particularmente as Assembleias de Deus, os Adventistas do Sétimo Dia e as igrejas mórmons, cujos membros doam em média 6% a 7% de sua renda. Os batistas doam em média 3% a 5%, enquanto os católicos, luteranos e episcopais contribuem com 1% às causas religiosas. Geralmente considerados os mais liberais dos cristãos, os unitários também são os menos generosos, doando menos de 1% de sua renda em média.
É claro, só porque há uma correlação entre doação religiosa e felicidade não significa que há causação entre as duas – que o dízimo torna você de fato mais feliz. Como nota Iannaccone, é possível que pessoas mais felizes simplesmente apresentem maior probabilidade de contribuir para sua igreja; ou pode ser que pessoas mais ricas sejam mais felizes, e como suas contas bancárias são maiores, podem doar mais; ou pode ser que pessoas mais felizes sejam mais bem-sucedidas, o que as torna mais ricas e, portanto, mais generosas. Em outras palavras, não é fácil responder à primeira pergunta de Rogers: doar à igreja leva diretamente a um maior contentamento?
Jonathan Gruber, um economista do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, sugere lidar com o assunto de modo diferente: estreitando o foco. Em artigo de pesquisa de 2004, intitulado "Pague ou Reze? O Impacto dos Subsídios de Caridade na Frequência Religiosa", Gruber investigou se doar dinheiro a uma igreja é um complemento à frequência religiosa ou um substituto. Seus resultados sugerem que é na verdade um substituto: cada 1% de aumento na doação produz uma redução de 1,1% na frequência à igreja.
Assim, o que tudo isso significa para a família de Rogers que adora a igreja? Gruber disse para Dubner: "Se ir à igreja é o que importa para eles, para sua felicidade e bem-estar, então eles deveriam doar menos e ir mais".
Mas e quanto à segunda pergunta e, no final, mais profunda, de Rogers: a religião por si só torna as pessoas mais felizes?
Aqui também é incrivelmente difícil provar a causação, mas Gruber descobriu uma solução nova, apesar de imperfeita. Para um artigo de 2005 intitulado "Estrutura de Mercado Religiosa, Participação Religiosa e Resultados: a Religião É Boa para Você?", Gruber olhou para pesquisas sociológicas anteriores mostrando que pessoas são mais religiosas quando vivem em áreas com mais pessoas da mesma religião (isto é, os católicos são mais católicos em Boston e os luteranos são mais luteranos em Minneapolis). Colocando a densidade étnica na mistura, ele determinou que os católicos poloneses são mais religiosos em Boston do que são em, digamos, Minneapolis (já que há mais deles na primeira cidade), e que, igualmente, os suecos luteranos são mais religiosos em Minneapolis do que em Boston.
Ao mesmo tempo, Gruber encontrou uma "forte correlação" entre pessoas que vivem entre grandes grupos de sua própria etnia (como os poloneses em Boston) e uma série de resultados positivos, incluindo rendas maiores, maior escolaridade e casamentos mais estáveis. O difícil era provar que isso tinha a ver com a maior participação religiosa e não simplesmente por esses grupos viverem ao lado de mais pessoas semelhantes. Gruber fez isso mostrando que os suecos que vivem entre muitos outros suecos se comportam de modo muito semelhante a aqueles que não – exceto no que se refere à observância religiosa – e o que o mesmo vale para os poloneses. Ele também demonstrou que o agrupamento de grupos étnicos diferentes que compartilham uma religião (como poloneses e italianos) pode produzir resultados igualmente positivos.
Logo, como exatamente a religião aumenta a prosperidade de alguém? Gruber argumenta que uma igreja ou sinagoga age como uma "rede social" que oferece uma forma de "seguro contra coisas ruins que possam acontecer a você". Se as pessoas adoecem, perdem seus empregos, se divorciam e assim por diante, elas podem ir à igreja e encontrar ajuda e consolo.
O argumento de Gruber está longe de inatacável – um fato que ele prontamente admite. "É importante que seus ouvintes entendam que, você sabe, a vida não é preto e branco, e às vezes há respostas mais claras que outras, e às vezes temos um teste aleatório e às vezes não", ele disse a Dubner. "E, na vida, você precisa decidir se a questão que você deseja responder é importante o bastante, mesmo que a resposta não seja tão clara quanto você gostaria."
E quanto ao próprio Gruber? A pesquisa dele reacendeu qualquer paixão pelo judaísmo de sua juventude? Não muito. "Eu era meio que forçado a ir ao templo quando era menino e me cansei disso. Eu tentei, mas não adiantou. Então decidi que não iria fingir para continuar indo."
(Stephen J. Dubner e Steven D. Levitt são autores de "Think Like a Freak", assim como de "Freakonomics: O Lado Oculto e Inesperado de Tudo Que Nos Afeta" e "Superfreakonomics: O Lado Oculto do Dia a Dia". Para mais informação, visite o site Freakonomics.com. Assine ao podcast "Freakonomics Radio" no iTunes ou ouça em Freakonomics.com/radio.)
Tradutor: George El Khouri Andolfato
quarta-feira, 11 de novembro de 2015
Uma Nova Religião? Solidariedade (Umberto Eco)
Os refugiados e uma nova religião com base na solidariedade
A solidariedade para com as pessoas em busca de asilo na Europa não surgiu em um único dia. Ela vinha ardendo sob a superfície há algum tempo. Mas foi preciso uma foto de uma criança síria afogada –e uma corajosa chanceler alemã– para que ganhasse voz
Matteo Salvani, o líder do xenofóbico partido Liga do Norte da Itália, estava certo quando comentou recentemente que a hábil chanceler da Alemanha, Angela Merkel, fechou um acordo de primeira ao acolher dezenas de milhares de sírios, muitos deles profissionais com alta escolaridade, para ajudar a estimular o produto interno bruto de seu país. E, ele acrescentou, o restante da Europa pode ficar com as sobras.
Mas uma pergunta vem à mente: por que um homem tão astuto como Salvani não pensou nisso primeiro? Afinal, há muitos milhares de sírios aqui na Itália. Além disso, é tão difícil imaginar que poderíamos encontrar mais que alguns poucos imigrantes com boa escolaridade entre os outros grupos étnicos? Por exemplo, eu encontro com frequência homens senegaleses vendendo guarda-chuvas e malas nas ruas de Milão, que falam francês e italiano com fluência e dizem ter cursado a faculdade.
Décadas de democracia alemã não apagaram totalmente a imagem na consciência do Ocidente do alemão intransigente gritando "kaput". Esse fantasma horrendo pareceu ressurgir durante a recente crise da dívida grega. Mas Merkel conseguiu transformar essa imagem nacional terrível em uma compassiva: um alemão (ou austríaco) sorridente pronto para acolher famílias de refugiados (e não apenas os sírios com diploma superior), fornecer necessidades vitais ou mesmo uma simples carona em seu carro.
A esta altura parece que Merkel selou o acordo, apesar dos problemas que surgiram com o fornecimento de moradia e alimentação para milhares de recém-chegados. Ela também está enfrentando críticas cada vez maiores por parte do público alemão e dos políticos do país, inclusive de seu próprio partido, pela forma como ela lidou com a crise. Mesmo assim, ela continua defendendo sua decisão.
Mas a compaixão dela em relação aos imigrantes não é boa apenas para a economia; ela representa algo bem mais profundo. Isso ficou claro no início de setembro, quando o mundo viu pela primeira vez a foto de Aylan Kurdi, o menino sírio de 3 anos encontrado afogado em uma praia em Bodrum, Turquia.
Em uma conferência de mídia realizada posteriormente naquele mês na Riviera italiana, o jornalista Mario Calabresi observou que uma foto sozinha não justifica a conversão global instantânea.
Mas, ele explicou, pode-se chegar a um momento crítico após uma quantidade significativa de tensão e desconforto acumulada com o tempo. Nesses momentos, uma imagem sozinha pode provocar uma transformação profunda. Isso já aconteceu antes na história. No caso do jovem Aylan, um senso de solidariedade estava ardendo sob a superfície há anos.
Pense nisso como uma nova religiosidade. Hoje, as religiões tradicionais estão em crise e com frequência em conflito umas com as outras, mas essa nova solidariedade supera as divisões entre cristãos católicos, protestantes e ortodoxos. Pode até mesmo superar as divisões entre cristãos e muçulmanos. O papa Francisco se tonou um intérprete dessa nova religiosidade ao pedir para que cada paróquia, comunidade religiosa ou mosteiro ajudasse e abrigasse ao menos uma família de refugiados.
Por anos as pessoas se preocuparam com o desaparecimento dos centros educacionais tradicionais para jovens, independentemente de serem administrados pela Igreja ou vários partidos políticos, e a solidariedade social que forneciam. Mas, pouco a pouco, uma sensibilidade semelhante vem sendo cultivada, mesmo sem eles.
Na Itália, vimos os primeiros sinais dessa camaradagem quando Florença foi atingida por enchentes em 1966, e centenas de jovens de todo o país –e de todo o mundo– vieram à cidade atingida para retirar livros da lama na Biblioteca Nacional. Mais recentemente, vimos evidência desse fenômeno na Médicos Sem Fronteiras, voluntários que foram à África e nos centenas de estudantes trabalhando sem remuneração em vários festivais culturais.
Essa solidariedade está destinada a durar? Não sei, mas certamente ela é alimentada pelo comportamento miserável de outros. Em termos de seu poder e amplitude, ela será capaz de superar as ondas de xenofobia que agora correm por toda a Europa? Talvez devêssemos lembrar que as primeiras comunidades cristãs eram minúsculas em comparação ao paganismo triunfante que as cercava.
Essa nova religião da solidariedade sem dúvida terá seus mártires, e não é preciso procurar muito para perceber que muitas pessoas estão preparadas para derramar sangue para sufocá-la. Mas talvez sejam elas, e não os imigrantes, que serão detidas.
Fonte: http://noticias.uol.com.br/blogs-e-colunas/coluna/umberto-eco/2015/10/31/os-refugiados-e-uma-nova-religiao-com-base-na-solidariedade.htm
Tradutor: George El Khouri Andolfato
UMBERTO ECO
Umberto Eco é professor de semiótica, crítico literário e romancista. É autor de "O Nome da Rosa" e "O Pêndulo de Foucalt".
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