Na data de hoje, em 25/08/1900.,morria F. Nietszche
"Nós,
que somos homens do conhecimento, não conhecemos a nós próprios; somos de nós mesmos
desconhecidos e não sem ter motivo. Nunca nós nos procuramos: como poderia, então
que nos encontrássemos algum dia? Com razão alguém disse: "onde estiver o
teu tesouro,
aí estará também o teu coração". Nosso tesouro está onde se assentam as
colmeias do
nosso conhecimento. Estamos sempre no caminho para elas como animais alados de nascimento
e recolhedores do mel do espírito, nos preocupamos de coração propriamente de uma
só coisa - de "levar para casa" algo. No que se refere, por demais, a
vida, as denominadas "vivências" - quem de nós tem sequer suficiente
seriedade para elas? Ou o suficiente tempo? Jamais temos prestado bem atenção
"ao assunto": ocorre precisamente que não temos ali nosso coração - e
nem sequer nosso ouvido! Antes bem, assim como um homem divinamente distraído e
absorto a quem o sino acaba de estrondear fortemente os ouvidos com suas doze batidas
de meio-dia, e de súbito acorda e se pergunta "o que é que em realidade
soou?", assim também nós abrimos às vezes, os ouvidos depois de ocorridas
as coisas e perguntamos, surpreendidos e perplexos de tudo, "o que é que
em realidade vivemos?, e também " quem somos nós realmente? e nos pomos a
contar com atraso, como temos dito, as doze vibrantes campainhas de nossa
vivência, de nossa vida, de nosso ser - ah! e nos equivocamos na conta... Necessariamente
permanecemos estranhos a nós mesmos, não nos entendemos, temos que nos confundir
com outros, e, em nós servirá sempre a frase que disse "cada um é para si
mesmo o mais distante" continuamos a nos considerar "homens do
conhecimento".
Prólogo
da Genealogia da Moral de F.
Nietzsche
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