"Este livro é para pouquíssimos. E talvez eles ainda não vivam. Seriam aqueles que compreendem meu Zaratustra: como poderia eu confundir aqueles para os quais há ouvidos agora? – Apenas o depois de amanhã é meu. Alguns nascem póstumos.
As
condições para que alguém me entenda, e me entenda por necessidade, eu as conheço muito bem. Nas coisas do espírito é
preciso ser honesto até a dureza, para apenas suportar a minha seriedade, a
minha paixão. É preciso estar habituado a viver nos montes – a ver abaixo de si a deplorável tagarelice atual
da política e do egoísmo de nações. É preciso haver se tornado indiferente, é
preciso jamais perguntar se a verdade é
útil, se ele vem a ser uma fatalidade para alguém... Uma predileção, própria da
força, por perguntas para as quais ninguém hoje tem a coragem; a coragem para o
proibido; a predestinação ao
labirinto. Uma experiência de sete solidões. Novos ouvidos para nova música.
Novos olhos para o mais distante. Uma nova consciência para verdades que até
agora permaneceram mudas. E a vontade para a economia de grande
estilo: manter junto sua força, seu entusiasmo...
A reverência a si mesmo; o amor a si; a incondicional liberdade ante si
mesmo...
Pois
bem! Esses são meus leitores, meus verdadeiros leitores, meus predestinados:
que importa o resto? – O resto é
apenas a humanidade. – É preciso ser superior à humanidade pela força, pela altura da alma – pelo desprezo..."
Prólogo do livro O Anticristo (1888), de Friedrich
Nietzsche, página 9, Companhia das Letras. SP. 2007.
Perguntinha: O Anticristo é uma metáfora, uma crítica? Ou é uma confrontação, afrontoso, para menosprezar o outro que lhe é diferente?
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