quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Vigário Episcopal: Novo colaborador do Bispo



O vigário episcopal é uma figura nova surgida, por ocasião do Concílio Ecumênico Vaticano II. A constituição dele depende das necessidades de cada diocese, e da vontade do Bispo diocesano. Sua atividade é definida pelo Bispo, de acordo com a realidade pastoral etc. A constituição dessa nova figura se explica a partir da atenção especial que a Igreja quer dar para determinadas minorias.

O termo “vigário” vem do substantivo latino “vicarius, ii”, que significa aquele que faz às vezes de alguém, substituto, representante. Nesse caso, podemos dizer que o vigário é aquele que atua no lugar de alguém, quando este não se encontra presente. E, aqui, se refere ao Bispo diocesano. E o que quer dizer “episcopal”? O termo “episcopal” deriva do grego “epískopos”, que também foi assumido pela língua latina com a expressão “episcopus, i”, que significa supervisor, guarda,vigilante.Portanto, o vigário episcopal é aquele que supervisiona uma pequena parte do Povo de Deus a ele confiada. Ele está diretamente ligado à cabeça da diocese, que é o Bispo diocesano, e que faz as suas vezes na tarefa determinada.

Como dizia anteriormente, a figura do vigário episcopal é uma figura recente na Igreja. A determinação está contida especialmente em um Decreto do Vaticano II, chamado Christus Dominus n. 27: “[...] Sempre que a eficiente administração da diocese o exija, pode o Bispo diocesano constituir um ou mais Vigários Episcopais. Estes, pelo próprio direito, gozam, em determinada região da diocese ou para uma categoria de assuntos, ou para os fiéis de determinado Rito, daquele poder que o direito comum atribui ao Vigário Geral”.

A área de atividade e as funções a serem desempenhadas em uma diocese pelo vigário episcopal dependerão sempre do Bispo diocesano. É ele que determina a missão específica de um vigário episcopal. O vigário geral tem as disposições previstas nas normas. Já o vigário episcopal também as tem em partes, cabendo à autoridade defini-las melhor. Ou seja, as orientações oficiais preveem que o vigário episcopal possa ser nomeado para uma parte da diocese, ou para determinadas questões, ou ainda para grupo de fiéis de um rito específico ou classe de pessoas etc. Ele exerce sempre com poder ordinário por direito universal, naquele mesmo poder que possui o vigário geral, como também o poder executivo. Em síntese, o poder ordinário e executivo que o vigário geral possui para toda a diocese, também o tem o vigário episcopal somente para a área ou a função determinada pelo Bispo diocesano. Lembrando ainda que o Bispo pode reservar para si algumas causas ou para o Vigário geral, e que algumas delas precisam do mandato especial do Bispo. Outra consideração importante é que o vigário episcopal possui as faculdades habituais concedidas pela Santa Sé ao Bispo, como também a execução de rescritos, salvas as exceções contidas nas normas.

O exercício ou podemos chamar da ação pastoral do Vigário episcopal se dá de diversas formas e situações. Tudo vai depender das disposições dadas pelo Bispo diocesano, pois é ele o pastor e pai da porção do Povo de Deus confiada aos seus cuidados (cf. LG 20, 27 e CD 16). Portanto, o Bispo é quem deve sempre orientar o vigário episcopal na atividade que lhe parecer oportuna para sua diocese. Como observamos a atividade pode acontecer tanto em um determinado território como em outras realidades da diocese: fiéis de outros ritos, religiosos, hospitais, pastorais etc. Nas grandes dioceses, pelo que nos conta, se costuma dividir os trabalhos do vigário episcopal por áreas geograficamente estabelecidas. O objetivo é de buscar um maior e melhor acompanhamento da pastoral diocesana nos setores, uma comunhão com os padres colaboradores da missão episcopal (cf. LG 28), uma melhor comunicação entre as várias realidades diocesanas e seu pastor que é o Bispo (cf. CD 17).

Já observamos várias vezes que o Bispo é o responsável para orientar a atuação do vigário episcopal naquela realidade diocesana necessária.O nome que se dá para essa realidade em que atua o vigário episcopal é “Vicariato Episcopal”.Por exemplo, o vigário episcopal destinado a acompanhar, segundo a orientação do Bispo, os religiosos e as religiosas da diocese tem o seguinte nome dado àquela missão de “Vicariato Episcopal para a Vida Religiosa”, e assim por diante. O vigário episcopal tem ainda o dever de prestar contas ao Bispo das principais atividades que fez ou vai fazer, e sempre agir em conformidade com sua vontade e sua mente nunca contra elas (cf. cân. 480). Recordamos que essa estrutura do vicariato é mantida pelos fiéis diocesanos em todos os sentidos, para que os objetivos traçados possam obter frutos em benefício de toda a vida diocesana. Entendido aqui todos os fiéis tantos os leigos quanto os pertencentes à hierarquia (cf. cânn. 211 e 216).

Por fim, diríamos que a missão primeira do vigário episcopal é colaborar com o Bispo diocesano, no que tange a realidade pastoral da diocese. Contudo, não podemos desconsiderar a amplitude da vida missionária da Igreja e, por conseguinte do seu papel fortemente social no mundo. Mesmo não sendo sua tarefa primeira não o escusa de colaborar nesse campo, pois como falamos no início o vigário episcopal é enviado para atuar em nome do Bispo naquela área ou circunstância por ele enviado. Portanto, cabe tranquilamente seu empenho também nessa parte, como em outros aspectos tratados pelo Magistério da Igreja como o ecumenismo, o diálogo inter-religioso etc. (cf. GS 92; UR 1; DH 2; NA 1-2). 

A nomeação do vigário episcopal é feita pelo Bispo diocesano, portanto, o mesmo pode livremente demiti-lo da função (cf. cân. 477). Existe exceção a essa norma contida no cân. 406 do Código. Também existem outros modos dele deixar a função, por exemplo, pelo fim do mandato que é estabelecido na própria nomeação; ainda por meio da renúnciaapresentada por escrito e aceita pelo Bispo; e também por intimação do Bispo a ele. Tenha-se presente as exceções contidas nos cânones 406 e 409; e por fim o vigário episcopal perde o mandato por meio da vacância da sé episcopal, isto é, quando a diocese está sem Bispo. No caso da vacância da sé permanecem somente com seus poderes os vigários episcopais que são Bispos auxiliares (cf. cân. 481).

Autoria :  Pe. Valdir Manuel dos Santos Filho, scj

Reproduzido (copiado parcialmente do site abaixo): 

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Hermenêutica, Exegese e Pós-modernidade



1. Foucault.  Foucault era um pensador brilhante, intelectual profícuo, mas viveu de modo desregrado e dissoluto, vindo a falecer em 25 de junho de 1984 em conseqüência de uma grave enfermidade. Sua principal contribuição ao pensamento pós-moderno, deve-se à noção de que todo tipo de discurso é uma tentativa, daquele que a usa, de exercer poder e influência sobre os outros e, por essa razão, os textos devem ser desconstruídos. A noção desconstrutivista de Foucault procede da “virada lingüística”, abordagem filosófica de fins da década de 60, também conhecida como estruturalismo. 

2. Derrida. O filósofo francês Jacques Derrida foi o fundador da desconstrução e, após receber da Universidade de Cambridge, em 1992, um título honorífico, sua tese sobre a indeterminação do sentido do texto espalhou-se mais facilmente pelo mundo acadêmico. Segundo os estruturalistas e pós-estruturalistas, o texto de qualquer obra não apresenta absolutamente nada além do próprio texto. Não existe uma intenção autoral, um propósito pelo qual a obra tenha sido escrita; as palavras não significam o que o autor pretendeu ao usá-las, cabe sim, ao leitor dar o significado que tal texto tem para si, independente do objetivo da obra ou da interpretação que segue os métodos hermenêuticos tradicionais. 

3. Consequências. A interpretação de um texto bíblico, por exemplo, poderia ter diversos significados, não sendo possível determinar qual o verdadeiro sentido. Este, não é intratextual (dentro do texto), mas extratextual (fora do texto). O significado do texto, portanto, é relativo, não sendo possível jamais chegar à verdade sobre o que ele afirma. Todo significado ou interpretação de um texto bíblico, na concepção desconstrutivista do estruturalismo e pós-estruturalismo, é indeterminada, e por isso mesmo, relativa. Por conseguinte, o estruturalismo, é muito mais do que um método aplicado aos textos, mas uma corrente filosófica aplicada a diversas disciplinas, já que todas usam o texto como principal ferramenta de comunicação.
O desenvolvimento da hermenêutica contemporânea e sua aplicação à interpretação dos textos bíblicos trazem consigo os seguintes temas:

a) Desmitologização;
b) Desconstrução;
c) Relativismo;
d) Naturalismo;
e) Existencialismo;
f) Desintegração do sentido;
g) Autonomismo textual.

Nota

[1] Cf. Chamberlain, W.D. Gramática exegética do grego neo-testamento. São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1989, p.25.

domingo, 22 de setembro de 2013

Não Quero Ser Mais Evangélico!

Por Ariovaldo Ramos

"Irmãos, uni-vos! Pastores evangélicos criam sindicato e cobram direitos trabalhistas das Igrejas". Esse, o título da matéria, chocante, publicada pela revista Veja de 9 de junho de 1999 anunciando formação do "Sindicato dos Pastores Evangélicos no Brasil".
 
Foi a gota d'água! Ao ler a matéria acima finalmente me dei conta de que o termo "evangélico" perdeu, por completo, seu conteúdo original. Ser evangélico, pelo menos no Brasil, não significa mais ser praticante e pregador do Evangelho (Boas Novas) de Jesus Cristo, mas, a condição de membro de um segmento do Cristianismo, com cada vez menor relacionamento histórico com a Reforma Protestante - o segmento mais complicado, controverso, dividido e contraditório do Cristianismo. O significado de ser pastor evangélico, então, é melhor nem falar, para não incorrer no risco de ser grosseiro.

Não quero mais ser evangélico! Quero voltar para Jesus Cristo, para a boa notícia que Ele é e ensinou. Voltemos a ser adoradores do Pai porque, segundo Jesus, são estes os que o Pai procura e, não, por mão de obra especializada ou por "profissionais da fé". Voltemos à consciência de que o Caminho, a Verdade e a Vida é uma Pessoa e não um corpo de doutrinas e/ou tradições, nascidas da tentativa de dissecarmos Deus; de que, estar no caminho, conhecer a verdade e desfrutar a vida é relacionar-se intensamente com essa Pessoa: Jesus de Nazaré, o Cristo, o Filho do Deus vivo. Quero os dogmas que nascem desse encontro: uma leitura bíblica que nos faça ver Jesus Cristo e não uma leitura bibliólatra. Não quero a espiritualidade que se sustenta em prodígios, no mínimo discutíveis, e sim, a que se manifesta no caráter.

Chega dessa "diabose"! Voltemos à graça, à centralidade da cruz, onde tudo foi consumado. Voltemos à consciência de que fomos achados por Ele, que começou em cada filho Seu algo que vai completar: voltemos às orações e jejuns, não como fruto de obrigação ou moeda de troca, mas, como namoro apaixonado com o Ser amado da alma resgatada.
 
Voltemos ao amor, à convicção de que ser cristão é amar a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos: voltemos aos irmãos, não como membros de um sindicato, de um clube, ou de uma sociedade anônima, mas, como membros do corpo de Cristo. Quero relacionar-me com eles como as crianças relacionam-se com os que as alimentam - em profundo amor e senso de dependência: quero voltar a ser guardião de meu irmão e não seu juiz. Voltemos ao amor que agasalha no frio, assiste na dor, dessedenta na sede, alimenta na fome, que reparte, que não usa o pronome "meu", mas, o pronome "nosso".

Para que os títulos: "pastor", "reverendo", "bispo", "apóstolo", o que eles significam, se todos são sacerdotes? Quero voltar a ser leigo! Para que o clericalismo? Voltemos, ao sermos servos uns dos outros aos dons do corpo que correm soltos e dão o tom litúrgico da reunião dos santos; ao, "onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu lá estarei" de Mateus 18.20. Que o culto seja do povo e não dos dirigentes - chega de show! Voltemos aos presbíteros e diáconos, não como títulos, mas, como função: os que, sob unção da igreja local, cuidam da ministração da Palavra, da vida de oração da comunidade e para que ninguém tenha necessidade, seja material, espiritual ou social. Chega de ministérios megalômanos onde o povo de Deus é mão de obra ou massa de manobra!

Para que os templos, o institucionalismo, o denominacionalismo? Voltemos às catacumbas, à igreja local. Por que o pulpitocentrismo? Voltemos ao "instruí-vos uns aos outros" (Cl 3. 16).
 
Por que a pressão pelo crescimento? Jesus Cristo não nos ordenou a sermos uma Igreja que cresce, mas, uma Igreja que aparece: "Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras, e glorifiquem a vosso Pai, que está nos céus. "(Mt 5.16). Vamos anunciar com nossa vida, serviço e palavras "todo o Evangelho ao homem... a todos os homens". Deixemos o crescimento para o Espírito Santo que "acrescenta dia a dia os que haverão de ser salvos", sem adulterar a mensagem.
 
 

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

O Movimento de Oxford (1833-1854)




Foto: Catedral de Oxford

Em 1833 a Europa estava sofrendo o impacto de uma revolução política e industrial. A Revolução Francesa e as guerras napoleônicas desafiavam todas as instituições e varriam os últimos vestígios do feudalismo, aspirando algo mais consistente e nobre.

A Igreja Anglicana havia servido desde seu início a um povo basicamente agrário e rural. Agora, controlada pelas leis do Parlamento, não desfrutava a liberdade desejada. Até mesmo para a administração de seus assuntos internos tinha que recorrer aos bispos da Câmara dos Hordes. O Parlamento, cada vez mais secular e menos religioso, havia realizado diversas mudanças, não esperadas, na estrutura da Igreja.

Um pequeno grupo de clérigos residentes na Universidade de Oxford se reuniu para fazer frente a essa situação.

O primeiro a estimular o movimento foi John Keble, com um inspirado sermão intitulado “A apostasia nacional ”, pregado na Igreja de Santa Maria em Oxford, em 14 de julho de 1833, comentando o projeto de Reforma no Parlamento de suprimir 10 dos 22 bispados existentes na Irlanda. No sermão, Keble exigia respeito para com a Igreja e que esta fosse considerada não como uma instituição nacional, e sim como instrumento da vontade divina. Afirmava que era pecado a intromissão secular na autoridade pastoral dos bispos. Com este sermão se deu início ao “Movimento de Oxford”, também conhecido com “Movimento Tratariano”, devido aos folhetos (Tracts) que imprimia e divulgava. Esse grupo de sacerdotes ligados à Universidade de Oxford iniciou uma campanha revolucionária escrevendo folhetos ou panfletos que levaram a uma renovação e os temas tratados nesses folhetos eram os seguintes: instrução sobre a importância da oração e da observação do Ano Litúrgico Eclesiástico, o jejum, a história da Igreja, a importância da ordem ministerial, a sucessão apostólica, os sacramentos (especialmente a Eucaristia). Sobre tudo, insistiam nos ministérios sacerdotal católico e apostólico.

Os clérigos mais famosos deste movimento foram: John Keble (1792-1866), Richard Hurrel Frouede (1803-1836), Edward Bouverie Pusey (1800-1882) e John Henry Newman (1801-1890).

Tudo o que ensinavam nesses folhetos também era posto em prática por eles. A santa eucaristia foi estabelecida como o ato central da adoração, enfatizando-se a presença real. Empreenderam esforços pela revisão da liturgia e conseguiram que a Igreja tivesse maior poder de decisão na eleição dos bispos. Também apoiaram o restabelecimento das ordens religiosas suprimidas por Henrique VIII.

Edwar B. Pusey redescobriu a dimensão comunual da Igreja. Ensinou que Deus queria salvar o homem e a mulher não como indivíduos, mas como povo. Diga-se de passagem, esse foi um grande princípio enfatizado a partir dos anos sessenta do século passado. Pusey enfatizou muito a importância da Eucaristia e, em geral, insistiu que a vida sacramental era a herança mais nobre da comunidade cristã.
Este movimento influenciou profundamente a Igreja Episcopal estabelecida na América. Os mais importantes simpatizantes norteamericanos entre os bispos foram: Levi Sillima Ives, George Washington Doane, John Henry Hopkins, Jackson Kemper, William Rollinson Whittingham, Nicholas Hamner Cobbs; entre os presbíteros podemos mencionar Samuel Seabury, editor do  Churchman , William Crorwell e James Lloyd Breck.

Tão forte foi o movimento para o lado católico que alguns sacerdotes e bispos decidiram retornar à Igreja Católica Romana. Entre eles, o mais famoso foi John Henry Newmann. Um clérigo chamado John Murray Forbes, após dez anos na Igreja romana retornou à Igreja Episcopal em 1859, dizendo que Roma exigia “o sacrifício da liberdade individual”.

Vida dos clérigos do Movimento de Oxford

Ingleses:  

John Keble (1866)

A cada manhã é novo o amor
O acordar e o levantar nos provam
Que no sono e na escurdião fomos cuidados
E que a viver, querer e pensar, fomos restaurados.

Essas palavras de John Keble foram extraídas do ciclo de poemas intitulado O ano cristão (1827), que ele escreveu para restaurar entre os anglicanos um profundo apresso pelo Ano Eclesiástico. A obra teve noventa e cinco edições, mas não era esta a fama que buscava: seu ardente desejo era ser um fiel pastor, que encontra satisfação nos serviços diários, nas classes de confirmação, nas visitas a escolas rurais e na volumosa correspondência com as pessoas que buscavam aconselhamento espiritual.

Keble nasceu em 1792 e recebeu a educação fundamental na própria casa paroquial de seu pai. Aos quatorze anos recebeu uma bolsa para estudar em Oxford onde se graudou em 1811 com notas altíssimas. Trabalhou na universidade em vários cargos, inclusive dez anos como professor de poesia. Depois de sua ordenação em 1816 serviu em várias paróquias rurais e finalmente se estabeleceu em 1836 na vila de Hursley, perto de Winchester, onde permaneceu trinta anos como sacerdote.

A Inglaterra estava passando por uma turbulenta mudança de uma sociedade rural para uma sociedade urbana e industrial. Entre as reformas dos anos 1830, o Parlamento decidiu abolir dez bispados anglicanos na Irlanda. Keble atacou com toda força essa decisão porque minava a autoridade e autonomia da Igreja.

Com um sermão chamado  A apostasia nacional , pregado em 1833, estimulou o Movimento de Oxford. Os colegas que se aliaram a ele começaram a publicar uma série de folhetos chamados “Tratados para nosso Tempo” – de onde veio o nome popular de “tratarianos”. Eles buscavam renova a Igreja de acordo com a herança sacramental primitiva. John Henry Newman foi o líder intelectual do movimento, Edward Pusey o profeta da vida devocional e John Keble a inspiração pastoral.

Ainda que fortemente criticado, permaneceu fiel à Igreja. Três anos após sua morte foi fundado um colégio com seu nome em Oxford “para educar com fidelidade estrita a Igreja da Inglaterra”. Sua data é comemorada em 29 de março.  

Eduardo Bouverie Pusey (1882)

Pusey foi um dos líderes mais destacados do Movimento de Oxford. Nascido em 22 de agosto de 1800, perto de Oxford, Pusey passou toda sua vida de estudo nesta universidade como Catedrático Real de hebraico e como cônego da faculdade Christ Church. Em 1833 uniu-se a Keble e Newman na elaboração dos Tratados que divulgavam o movimento.

No entanto, a atividade pela qual mais se destacou foi a pregação de conteúdo católico e zelo evangélico pelas almas. Para muitos de seus contemporâneos mais influentes, isso parecia perigosamente inovador. Um sermão pregado em 1843 na universidade sobre “a santa eucaristia, consolo do penitente”, fez com que ele fosse condenado sem oportunidade de defesa, e proibido de pregar durante dois anos, pena que suportou com muita paciência. Desta maneira, os princípios que defendia, tais como a presença real de Cristo na Eucaristia, chegaram ao conhecimento do público. O sermão pronunciado em outra universidade sobre a “absolvição completa do penitente” motivou o ressurgir da confissão privada (auricular) na Comunhão Anglicana.

Quando Newman passou para a Igreja de Roma em 1845, a adesão de Pusey à igreja da Inglaterra e sua lealdade detiveram muitos que pretendiam seguir a Newman.

Após a morte de sua esposa em 1839, Pusey dedicou grande parte do patrimônio de sua família para fundar igrejas para os pobres, e muito de seu tempo na criação de irmandades femininas. Em 1845 fundou a primeira irmandade anglciana de mulheres desde a época da Reforma. Pusey morreu no convento dessa irmandade, o Priorato de Ascot, no condado de Berk em 16 de setembro de 1882. Seu corpo foi levado para a faculdade Christ Church e sepultado na nave da catedral de Oxford. A  Casa de Pusey , uma casa de estudos fundada depois de sua morte, perpetua seu nome em Oxford. Sua erudição e retidão deram estabilidade ao Movimento de Oxford. Sua data é comemorada em 18 de setembro, dia do seu sepultamento.

Americanos:

Jaime Lloyd Breck (1876) foi um dos missionários mais importantes da Igreja Episcopal no século XIX, conhecido como “o apóstolo do deserto”.

Breck nasceu na Filadélfia em 1818 e como outros importantes clérigos de seu tempo, foi bastante influenciado pela devoção pastoral, a preocupação litúrgica e a ênfase sacramental de William August Muhlenberg. Breck matriculou-se na escola de Muhlenberg em Flushing, Nova York, antes de transferir-se para a Universidade da Pennsylvania. Muhlenberg o estimulou quando tinha 16 anos de idade, a se dedicar à obra missionária. A vocação se cristalizou quando Breck, junto com outros três companheiros do Seminário Geral, fundou uma comunidade religiosa em Nashotah, Wisconsin, em 1844.

Nashotah se transformou em um centro de observância litúrgica, cuidado pastoral e educação. Seus membros visitavam as aldeias e famílias isoladas onde estabeleciam pontos missionários, despertando grande vigor na Igreja Episcopal da região. Nashotah Haouse floresceu e se transformou em um dos seminários da Igreja Episcopal.

Posteriormente, Breck se mudou para San Pablo, Minnesota, onde iniciu o trabalho da Igreja Episcopal. Às margens do lago “Gaviota”, organizou a missão de Saint Columba para os índios ojibwa. Seu ideal era formar sacerdotes nativos dentre os próprios índios.  

Em l855 Breck se casou e em 1858 se estabeleceu em Faribault, Minnesota, onde seu trabalho ficou associado a uma das primeiras catedrais fundadas na Igreja Episcopal dos Estados Unidos.

Também fundou a escola de Teologia Seabury, que mais tarde se associou ao Seminário Teológico Ocidental, transformando-se em Seabury-Western. Em l867 Breck foi para a California, inspirado sobretdo pela idéia de fundar uma nova escola de teologia. As escolas que abriu em Benicia, Califórnia, não sobreviveram, mas as cinco paróquias que fundou na Califórnia se fortaleceram imensamente com seu trabalho. Morreu prematuramente em 1876 com 55 anos de idade. Sua vida é comemorada liturgicamente no dia 02 de abril.

Samuel Seabury (1784), o primeiro bispo da Igreja Episcopal, nasceu em 30 de novembro de 1729 em Groton, Connecticut. Depois de ordenado na Inglaterra em 1753 foi-lhe destinada a função de missionário da Sociedade para a Propagação do Evangelho e o trabalho paroquial na Igreja de Cristo em New Brunswick, New Jersey. Em 1757 foi eleito reitor da Igreja da Graça em Long Island e em 1766 reitor da Igreja de St Peter, no condado de Westchester. Durante a revolução americana permaneceu leal à coroa britânica e serviu como capelão do exército britânico.

Após a revolução, uma reunião secreta de clérigos realizada no dia 25 de março de 1783 em Woodbury escoleu a Seabury e o revd. Jeremias Leaming, qualquer um que estivesse disposto e aceitasse, para conseguir a sagração episcopal na Inglaterra. Leaming recusou. Seabury aceitou e viajou para a Inglaterra.

Após um ano de negociações, Seabury não conseguiu receber a ordenação episcopal por parte da Igreja da Inglaterra, pois sendo cidadão americano, não podia prestar juramento de fidelidade à coroa britânica. Então se dirigiu aos bispos da Igreja Episcopal da Escócia. Em 14 de novembro de 1784, na presença do clero e laicato, foi consagrado bispo coadjutor de Aberdeen e bispo de Ross e Caithness.

Após regressar à América, Seabury foi reconhecido como bispo de Connecticut na convenção de 3 de agosto de 1785 em Middletown. Trabalhou com o bispo William White na organização da Convenção Geral da Igreja Episcopal de 1789. Com o apoio de William Smith de Maryland, de William Smith de Rhode Island, de William White da Pennsylvania, e de Samuel Parker de Boston, Seabury cumpriu a promessa feita aos bispos escocês de convencer a Igreja americana a adotar a forma escocesa de celebração da Santa Eucaristia.

Em 1790, Seabury adquiriu a responsabilidade pela supervisão episcopal das igrejas de Rhode Island e, na Convenção Geral de 1793 participou na primeira consagração de um bispo em terras americanas, a de John Clagget, de Maryland. Seabury morreu em 25 de fevereiro de 1796 e foi sepultado na Igreja de St James, em New London. Sua data é 14 de novembro, data de sua sagração episcopal.

Extraído dos arquivos de Dom Sumio Takatsu