Anglo-católica
Outra experiência
espiritual que surgiu no seio da Igreja da Inglaterra foi aquele que teve a ver com o
conhecido Movimento de Oxford. Este
movimento incentivou, em meados do século XIX, um redescobrimento da
experiência religiosa do tipo comunitário monástico. Estas ordens variavam
desde o tipo contemplativo até as que tinham um caráter mais assistencial.
Estas comunidades resgataram regras antigas da tradição cristã, como por
exemplo as de S. Agostinho, S. Bento e S. Francisco de Assis. A Comunidade de Santa Maria Virgem,
por exemplo, segue a regra de são Francisco de Sales, sendo uma das comunidades
monásticas femininas mais antigas da Comunhão Anglicana. Uma outra bonita
expressão de espiritualidade que vem surgindo nestes últimos cinquenta anos é a
iconografia. Muitas são as pessoas e
comunidades que passaram agora a desenvolver trabalhos ligados mais à
espiritualidade oriental. Na Inglaterra há muitas possibilidades de se obter
ícones devocionais tanto para casa como para igrejas. Um exemplo desta
atividade pode ser encontrada em Wendy Kington, uma artista popular anglicana
na Nova Zelândia que expõe toda a sua jornada espiritual através da pintura de
cópias da Cruz de S. Damião.
V. Um projeto comum
Neste século, o
ecumenismo foi um dos elementos que mais contribuiu para o
enriquecimento do
anglicanismo. Tendo como elemento básico a fé na Trindade, o anglicanismo se
acercou com as demais comunidades cristãs e com elas aprendeu sobre a beleza e
a profundidade que havia nas outras tradições cristãs irmãs. “Em décadas
recentes, muitas novas possibilidades surgiram. O compartilhar ecumênico entre
as muitas tradições cristãs acabaram por fertilizar novas espiritualidades que
nunca cresceram muito bem em solo anglicano, incluindo o misticismo, a
renovação pentecostal, o ativismo de libertação, o feminismo e a unidade da
criação”.
É revelador
ver em muitos Seminários Anglicanos ao redor do mundo, palestras e encontros,
quando não disciplinas curriculares, que trabalham a espiritualidade de uma
Teresa d’ Ávila ou de um São João da Cruz. É importante atestar em quase todo o
mundo anglicano, um renovado interesse pela espiritualidade do deserto,
particularmente àquela ligada ao Monte Athos e à oração de Jesus, conforme está
exposta por exemplo no texto da Pequena Filocalia248 É surpreendente ver o aumento do interesse
pelos ícones, elementos tão ligados à espiritualidade ortodoxa, também entre
nossos pastores e líderes. Mais recentemente o anglicanismo vem empreendendo
uma busca profunda sobre sua herança histórica através do estudo da comunidade
e da espiritualidade celta. Muitos livros estão sendo escritos sobre este tema
que hoje representa um desafio para todos nós. Um último e grande desafio que a
Comunhão Anglicana está enfrentado nestes dias diz respeito ao que podemos
aprender sobre espiritualidade no diálogo interconfessional249 com as comunidades
hindu, budista, muçulmana, judaica, etc. Sem dúvida a rica tradição destas
comunidades podem trazer, resguardadas as devidas diferenças, algum
enriquecimento para a espiritualidade anglicana, particularmente no que diz
respeito a antiga e esquecida prática da meditação250 que caiu em desuso
por causa da intelectualização da teologia
ocorrida com o
Iluminismo.
Rev.
Jorge Aquino+
Obs.: os negritos não são do autor.
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