quarta-feira, 22 de maio de 2013

Uma Igreja Pública



Uma Igreja Pública: Quatro Breves Teses

Autor: Julio Zabatiero

Indo direto ao ponto:

Tese 1. as igrejas cristãs na atualidade são instituições privadas que entram, de modo privado, nos espaços públicos. Que quero dizer com esta "tese"? quando examinamos a ação e as declarações missionárias das igrejas cristãs no Brasil atual, encontramos práticas e teorias que têm como objetivo primordial o "crescimento" das instituições eclesiais, tanto do ponto de vista numérico, quanto do ponto de vista de sua influência sobre a sociedade e o Estado, com vistas a impor uma moralidade "cristã" ao conjunto da sociedade. Há exceções, mas esta é, a meu ver, a regra geral.

Tese 2. as igrejas cristãs são instituições privadas similares a quaisquer outras instituições no tocante ao seu patrimônio e materialidade, mas livres da ingerência do Estado no que tange à religião propriamente dita. Instituições privadas, posto que a religião não tem caráter "público" no sentido de ser legalmente obrigatória para os habitantes de nosso país. Se queremos liberdade de religião, precisamos assumir o caráter privado das instituições religiosas e eclesiais. Como instituições privadas, as igrejas não podem ser reguladas pelo Estado naquilo que é especificamente "religioso" - podem, sim, ser reguladas pelo Estado naquilo que é "secular": terrenos e prédios, salários e contratações, impostos, etc.

Tese 3. as igrejas cristãs são instituições privadas que devem entrar, de modo público, nos espaços públicos. Dado o caráter peculiar da instituição religiosa, sua entrada nos espaços públicos (estatais e não-estatais) deveria se dar de modo "público", ou seja, no modo da prestação de serviço - dentro dos limites da identidade eclesial - à sociedade e ao Estado. Exemplos: socorrer pessoas cuja vida está sob ameaça interna ou externa; ajudar a formar cidadãs e cidadãos solidários; acolher pessoas "fracassadas" na vida (conforme os padrões de sucesso do mundo capitalista); ajudar as pessoas a serem saudáveis psiquicamente; etc.

Tese 4. as igrejas cristãs que atuam de modo público nos espaços públicos dão testemunho do reinado de Deus, no estilo do Messias Jesus. "O Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir ...". Uma igreja cristã que serve, no estilo jesuânico, não precisa entrar privadamente nos espaços públicos a fim de crescer e se multiplicar. Quando uma igreja entra publicamente nos espaços públicos seu testemunho do Evangelho se enche de credibilidade e o próprio "Senhor acrescenta os que vão sendo salvos".

Obs.: o texto foi postado na íntegra, não fiz correção, nada. Está do jeito que o autor publicou.

sábado, 18 de maio de 2013

Dom Glauco Soares de Lima

Bispo Dom Glauco Soares de Lima, apesar de toda a sua trajetória de liderança na IEAB, de ter ajudado muita gente (inclusive com dinheiro), não aparece mais no site dessa instituição como membro da Câmara dos Bispos. Não houve nenhum comunicado oficial dessa "exclusão". Dom Glauco é um dos poucos pastores vocacionados, com verdadeiro dom de cuidar de pessoas, com conhecimento intelectual, com verdadeiras amizades no Brasil e no mundo. Dom Glauco tem ainda o pensamento muito lúcido apesar da idade. Se a IEAB tem coragem de ignorar um bispo desse porte e deixar os medíocres, então, significa que a instituição perdeu o rumo do amor cristão. Dom Glauco, agora, merece maior cuidado (retorno) da instituição que ajudou a crescer e estabelecer Brasil. Se o cuidado não for por misericórdia ou por compaixão, que seja pela Lei do Idoso. 
Para quem não sabe, Dom Glauco apoia a Catedral Anglicana de São Paulo.

 Aroldo da Cruz Lara

sexta-feira, 17 de maio de 2013

Resgate Teológico dos Animais

Sobre a Teologia da Libertação Animal: o texto abaixo é para se pensar... sobre a igualdade entre as criaturas
 
"Observei outra coisa debaixo do sol: em lugar do direito, encontra-se a injustiça; e, em lugar do justo, encontra-se o injusto. E concluí que o justo e o injusto estão debaixo do julgamento de Deus, porque existe um tempo para cada coisa e um julgamento para cada ação. Quanto aos homens, penso assim: Deus os coloca à prova, para mostrar que eles, em si mesmos, são como animais. De fato, o destino do homem e do animal são idênticos: do modo que morrem estes, morrem também aqueles. Uns e outros têm o mesmo sopro vital, sem que o homem tenha vantagem nenhuma sobre o animal, porque tudo é fugaz. Uns e outros vão para o mesmo lugar: vêm do pó, e voltam para o pó. Quem pode saber se o sopro vital do homem sobe para o alto, e o do animal desce para baixo da terra?"
 
Eclesiastes
 
Recomendo a leitura do artigo de Mestrado do Rev. Jerson Darif  (em conjunto com Prof. Dr. Mário Antônio Sanches - PUC - Pr) sobre sobre o "resgate teológico dos animais não humanos":
 
 
Boa leitura!
 
Aroldo da Cruz Lara

quinta-feira, 16 de maio de 2013

Mitos e Verdades Sobre a "Igreja Anglicana"

(1) Há quem pense que “Igreja Anglicana” é uma denominação única. Isso não é verdade. Há dezenas de denominações anglicanas (ver em: http://www.anglicansonline.org/communion/nic.html). A Comunhão Anglicana não é uma denominação, mas, como o nome diz, uma comunhão. Há igrejas anglicanas (a maioria) que fazem parte dessa comunhão e outras que não fazem parte. Algumas delas estão ligadas ao movimento “continuante” e outras ao movimento “confessante”.

(2) Há quem pense que a igreja anglicana foi fundada pelo rei Henrique VIII, da Inglaterra, em 1534. Isso não é verdade. A igreja estava presente na Inglaterra desde os primórdios do cristianismo e florescia entre os povos celtas que ali haviam se estabelecido. No século VII (664 d.C.), no Sínodo de Whitby, a Igreja da Inglaterra subordinou-se ao papa e passou a ser a Igreja Romana na Inglaterra, situação que perdurou até Henrique VIII.

(3) Há quem pense que a igreja anglicana tornou-se “protestante” sob Henrique VIII. Isso não é verdade. Esse rei, que tinha o título de “Defensor da Fé”, outorgado pelo papa, apenas assumiu o governo da igreja; a fé e a prática religiosa continuaram as mesmas. Somente quando sua filha, Elizabeth I, assumiu o trono é que a igreja anglicana, de fato, assumiu a teologia protestante, mantendo, porém, a liturgia histórica, tradicional, consubstanciada no LOC – Livro de Oração Comum, cuja primeira edição data do Domingo de Pentecostes de 1549, sob os auspícios do do rei Eduardo VI, também protestante, e do arcebispo de Cantuária (Canterbury), Thomas Cranmer. Elizabeth instituiu a Via media, imaginando que a Igreja da Inglaterra poderia servir de ponte entre Roma e Genebra, ou seja, entre o catolicismo romano e o protestantismo.

(4) Há quem pense que a igreja anglicana é uma igreja católica (no sentido de “romana”). Isso não é verdade. Católica é toda igreja que está de acordo com o que é crido e praticado por todas as igrejas em todos os lugares e em todos os tempos. Quanto a este aspecto, a igreja anglicana é católica, pois não adota heresias em suas declarações de fé. Mas não é “romana”, não está sujeita ao papa, nem adota seus particulares dogmas e práticas: a transubstanciação dos elementos da eucaristia, oração pelos mortos, celibato obrigatório dos padres, veneração da virgem Maria e dos santos canonizados, imaculada conceição de Maria, assunção corporal de Maria ao céu, o sacrifício da missa (a missa anglicana é um culto), purgatório, infalibilidade do papa, obras meritórias para a salvação da alma, a tradição com o mesmo valor das Escrituras Sagradas, e outros.

(5) Há quem pense que as ordens anglicanas não são válidas, em virtude da bula Apostolicae Curae, de Leão XIII, que, em 1896, declarava: “as ordenações feitas segundo o rito anglicano são totalmente inválidas e inteiramente vãs”. Isso não é verdade. O papa só tem autoridade para reconhecer ou deixar de reconhecer atos e sacramentos de sua igreja, quer dizer, a romana. O que ocorre no âmbito do anglicanismo não é da competência nem da jurisdição do bispo de Roma. Houve quem não reconhecesse a validade do apostolado de Paulo. Sua resposta foi que seu apostolado tinha um selo: aqueles que o reconheciam (1 Co 9.2-3).

(6) Há quem pense que todos os anglicanos são fissurados pela “sucessão apóstólica”. Isso não é verdade. Há anglicanos evangelicais que não dão a mínima para a sucessão apostólica; eles entendem que essas listas de bispos desde os apóstolos são ficção (algumas delas são reconhecidamente forjadas) e que não há como comprovar documentalmente a veracidade de nenhuma delas [ver: http://wp.me/p6xvX-cd].

(7) Há quem pense que todos os anglicanos são a favor da prática homossexual. Isso não é verdade. A maioria dos anglicanos é contra essa prática, tendo-a como antibíblica e abominável.

(8) Há quem pense que todas as igrejas anglicanas ordenam homossexuais ao ministério. Isso não é verdade. A maioria dos anglicanos é contra essa prática, tendo-a como antibíblica e abominável.

(9) Há quem pense que todos os anglicanos são contra a ordenação feminina ao ministério. Isso não é verdade. Há igrejas que ordenam diaconisas; outras que ordenam diaconisas e presbíteras; e outras que também ordenam episcopisas (bispas).

(10) Há quem pense que todos os anglicanos são a favor da prática do aborto. Isso não é verdade. A maioria dos anglicanos é contra essa prática, tendo-a como antibíblica e abominável.

(11) Há quem pense que todos os anglicanos são a favor das relações extraconjugais quando os cônjuges concordam entre si com elas. Isso não é verdade. A maioria dos anglicanos é contra essa prática, tendo-a como antibíblica e abominável.

(12) Há quem pense que todos os anglicanos são contra o uso das vestes clericais, inclusive a mitra e o báculo pelos bispos. Isso não é verdade. A maioria das igrejas anglicanas adota as vestes clericais e seus bispos usam livremente a mitra, o báculo e outros adereços, como a cruz peitoral, o anel episcopal, estolas com as cores litúrgicas. Nas missas também pode haver velas, incenso, procissões, vênias.

(13) Há quem pense que todas as igrejas anglicanas são anglo-católicas, ou seja, têm práticas devocionais semelhantes à igreja romana, especialmente a veneração de Maria e a oração “Ave Maria”. Isso não é verdade. No anglicanismo, há os anglo-católicos, os evangelicais, os reformados, os carismáticos; há calvinistas, arminianos, liberais, tradicionalistas, fundamentalistas, tico-tico-no-fubá, maria-vai-com-as-outras. Muitos evangélicos não entendem como os anglicanos conseguem conviver pacificamente (nem sempre) com essas práticas e crenças conflitantes. Esse é o fenômeno da inclusividade, tolerância que é reflexo da Via media de Elizabeth I.

+Bispo José Moreno
Anglicanos livres, a serviço do reino de Deus
Rio de Janeiro: (21) 3514-7067 / 8328-0813
São Paulo: (11) 4063-8861
Belo Horizonte: (31) 4062-7631
http://www.anglicanalivre.org.br
E-mail: anglicanalivre@gmail.com

segunda-feira, 13 de maio de 2013

Capela Anglicana da Virgem Maria

A Capela Anglicana da Virgem Maria em Curitiba, chamada de Paróquia da "Acolhida Radical", oferece os seguintes atendimentos à toda Comunidade:

1. Batizados
2. Bênção nos Lares
3. Casamentos Religiosos
4. Bênção da Saúde
5. Mediação de Conflitos
6. Aconselhamento Espiritual
7. Exéquias

 Contato: (41) 9992-1575

quarta-feira, 8 de maio de 2013

Identidade Anglicana

Texto parcialmente adaptado de John L. Later

 O termo “anglicanismo” tem como conteúdo histórico, em primeiro lugar, a história da Igreja na Inglaterra. Teve influência no sec. XVI no ambiente da Reforma protestante ligada ao nacionalismo inglês. Não tinha o conceito de “comunhão” anglicana, mas tinha a necessidade de um governo episcopal. No reinado da Rainha Elisabeth a nascente igreja britânica se relacionou (dialogou) com as igrejas reformadas e luteranas como igrejas irmãs. A autêntica identidade eclesial era que todas tivessem como base teológica a crença nos Evangelhos. Porém, existem muitos elementos que não são compartilhados por outras correntes de fé por serem exclusivamente inglês (anglicanos).

Em 1930 a Conferência de Lambeth descreveu aa igrejas da comunhão anglicana como ”igrejas particulares ou nacionais, que como tais, promovem dentro de cada um dos seus territórios uma expressão nacional e autêntica da fé cristã”. Esse seria o início de um conceito de identidade e missão dos anglicanos. Identidade e missão que precisam ser relevantes em nosso contexto histórico nacional. No Brasil, no momento histórico atual, a comunhão anglicana brasileira tenta sobreviver em meio a instabilidade teológica, política e financeira. Aprisionado pelos cânones e distantes do Evangelho, tentamos encontrar nossa identidade perdida.

O “novo” Movimento Anglicano no Brasil vem a esse encontro, vem trazer nova à vida à identidade da Igreja anglicana nacional.

Igreja, anglicana ou não, é lugar de Vida.

 

Aroldo da Cruz Lara

Pós-Modernismo e Evangelização



A expressão pós-modernismo surge após a crise de identidade das ideologias do século XX, como reação ao “moderno” (esteticamente, nas Artes; e no Capitalismo). A Modernidade se identifica com a Revolução Industrial e com o Iluminismo. Portanto, a crítica que se faz ao pós-modernismo como “iluminismo” tardio é incorreta. Em Filosofia e Teoria Crítica, o pós-modernismo é a condição social que marca o fim da Modernidade. Ernest Gellner  considera três pontos no debate atual das mudanças sociais: o Pós-modernismo, o Fundamentalismo religioso, e a Razão (o fundamento do Iluminismo). Estamos vivendo no meio do debate dessas três questões mesmo sem querer ou saber. O pós-modernismo, segundo ele, nega a existência de qualquer verdade universal e questiona a cosmovisão que alega a universalidade. Mas seu objetivo não é apenas rejeitar cosmovisões, senão rejeitar até mesmo a possibilidade de própria cosmovisão (exigindo coerência). A dialética com os demais autores consultados dará o entorno dessa síntese.
Segundo o filósofo alemão Jürgen Habermas, o único favorecimento da modernidade foi incorporar os princípios do racionalismo para dentro da vida pública e artística. Para Habermas, o modernismo supera a razão iluminista. O movimento pós-modernista representa a ressurgimento de longa duração de idéias contra-iluministas, reafirmando que o projeto moderno ainda não está terminado e que a universalidade não pode ser dispensada. Relaciona, por fim, a pós-modernidade às tendências políticas e culturais neoconservadoras, determinadas a combater idéias iluministas.
Jean-François Lyotard entendeu a modernidade como a condição cultural caracterizada pela constante perseguição (rumo à) ao progresso. O pós-modernismo, nesse caso, representa o auge desse progresso, onde a mudança constante se tornou o status quo e o progresso rapidamente se tornou rapidamente obsoleto. Ele ainda argumenta que várias metas-narrativas  de progresso (positivismo, marxismo, estruturalismo) não mais se sustentam como motores do progresso. E ainda, os grandes esquemas explicativos caíram no descrédito (sistematização), posto que a ciência não poderia ser considerada como a única fonte da verdade experimental (assim, relativa a ciência).
Ludwig Wittgenstein, nessa linha de pensamento, critica a possibilidade de progresso e conhecimento absolutos. Outros identificam o pós-modernismo como “capitalismo tardio” ou “acumulação flexível” na “sociedade líquida” (Zygmunt Bauman). Este autor ainda utiliza o termo “modernidade líquida”: uma realidade ambígua, multiforme, cuja expressão foi inspirada na obra “Tudo que sólido se desmancha no ar”. Por outro lado, o autor Gilles Lipovetsky prefere o termo “hipomodernidade”, pois considera não haver ruptura com a modernidade, que contém características mais exacerbadas de individualismo, consumismo, hedonismo e fragmentação de tempo e espaço.
Enquanto o Modernismo e o Cristianismo chocam-se na alegação da verdade, o pós-modernismo ataca o próprio conceito de verdade. A verdade é aquilo que funciona para cada um (ortopraxia). Nesse mundo pós-moderno o homem não recebe passivamente o conhecimento sobre o mundo e a vida; é a chamada de “hermenêutica relativista”. A lógica, a ciência, a história, a moralidade não são absolutas, são produtos da experiência individual (subjetividade). A realidade é o que percebemos ser a realidade. Cada um faz a sua realidade e seu destino. Quando Gellner situa os três debates da sociedade atual, o aspecto mais contundente é o medo que o fundamentalismo religioso tem de perder o controle sobre as regras religiosas que mantêm os fiéis longe dos perigos do “mundo”. A pós-modernidade recoloca o homem no mundo (veja a oração de Jesus Cristo no Evangelho de São João 17,15: “Não peço que os tire do mundo, mas que os livres do mal”.). A teologia pós-moderna não traz resposta, senão perguntas. O homem pós-moderno questiona as respostas prontas e desconfia dos modelos autoritários de liderança políticas e religiosas. Não existe fidelidade religiosa, partidária ou a algum produto. A religião não é mais pública, pertence agora à esfera privada. O Modernismo se caracterizava pela Transcendência; o Pós-modernismo, pela Imanência. O homem volta ao centro do universo e o comanda. O Transcendente está a serviço do homem. As pessoas querem optar pela sua própria forma de espiritualidade sem serem incomodadas, sem tentarem impor sua fé para ninguém, nem serem obrigados a aceitar a fé de ninguém. Aqui se apresenta o desafio para uma nova Evangelização. Como fazer para evangelizar a Geração Y, que exige respostas imediatas, caso contrário mudam para outras opções rapidamente? Se funcionar para mim, ótimo. E a Geração Z, que prefere os contatos virtuais aos encontros pessoais, que não vai mais à igreja? Quem pode dizer que os cristãos atuais obedecem apenas aquilo que lhes interessa nos textos sagrados, quando buscam em Deus o cumprimento das promessas que Ele fez algum dia? Na pós-modernidade, o Deus cristão é meramente um refém das promessas que fez. A Teologia da Prosperidade emerge na pós-modernidade com oferta de soluções rápida.
A Bíblia Sagrada, livro sagrado do Cristianismo, também pode ser lida de forma pós-moderna (existe um livro com esse título) e nos dá esclarecimentos sobre as diferentes formas de leituras. Chama a atenção a leitura marxista, a leitura de gênero, a leitura do ponto de vista do leitor. Essa leitura é subjetiva e existencialista. O indivíduo pergunta o que o texto diz para ele nesta vida, sem se importar com o que diz para o grupo. A verdade do texto é relativa a cada indivíduo. Não podemos responder questões atuais com respostas de dois ou três mil anos atrás. O mundo não é mais assim, existem outros problemas e questões não tratadas no livro sagrado dos cristãos. E como encaramos os livros sagrados de outras confissões de fé não cristãs? 
O pós-modernismo entende todas as confissões de fé como partes de uma mesma e única Verdade.

Aroldo da Cruz Lara

terça-feira, 7 de maio de 2013

"Igrejas de Ninguém" (Nobody’s Church)



 

“Um pensamento, um fio de fumaça, uma coisa sem substância”: ninguém.[1] Definição quase nova para Ninguém. Existem diversas coisas para “ninguém”: cinema de ninguém, crítica de ninguém, dicionário de ninguém, filosofia de ninguém. Ninguém são pessoas (em latim, não quem, nenhum), outras pessoas. Na língua portuguesa é um pronome indefinido. Mas não estamos falando meramente de um jogo de palavras, antes de um pequeno movimento se que inicia em algum lugar do mundo. Seria apenas mais um modismo? Religiosos, porém, reclamam que os sinos dobram para ninguém (para as grandes celebrações das igrejas oficiais). A crítica do magistério oficial, ainda, é que as igrejas de ninguém não estão conectadas à tradição apóstolica. No Brasil, temos lembrança de conotações das igreja de ninguém (dependendo do contexto): “não copiamos igrejas de ninguém, não invadimos igreja de ninguém, não colocamos fogo em igrejas de ninugém, não falamos de igrejas de ninguém”. Em Noank, Connecticut (USA) existe uma igreja chamada de Saint Nobody's Church (foto acima). [2]
Também na literatura, poesia e na música, ninguém serve de temas recorrente. A poetisa portuguesa e ainda desconhecida Paula Val declama em versos brancos em seu blog:

                        Perco-me em igrejas de ninguém
Mãos erguidas cheias de nada. [3]

            Mas, para ilustrar essa novidade, veja esta estória publicada em um jornal de 1970[4].

Fred Alguém, Thomas Todo mundo, Pete Qualquer Um e Ninguém Joe eram vizinhos. Todos os quatro pertenciam à mesma igreja, mas você não poderia deixar de apreciar junto adorar com eles. Todo Mundo foi pescar no domingo ou ficou em casa para se reunir com os amigos. Qualquer Um queria adorar, mas era alguém com medo de falar com os demais, assim ninguém ia à igreja com ele. Ninguém realmente foi o único digno dos quatro. Ninguém fez a visitação, Ninguém trabalhou no edifício da igreja. Uma vez que eles precisavam de um professor para escola dominical, Todo mundo pensou que Alguém pudesse fazê-lo, e Todo mundo pensou que alguém pudesse ensinar. Adivinha quem finalmente fez isso? É isso mesmo, Ninguém. Aconteceu que o vizinho de um incrédulo passou a viver entre eles. Todos e Alguém acharam que deveriam tentar convertê-lo; Qualquer um poderia ter feito, ou pelo menos, fez um esforço. Mas adivinha quem fez?  Ninguém, finalmente, o trouxe para Cristo!

Poderíamos encontrar uma fundamentação bíblica ousada que servisse para justificar a prática, tanto do Primeiro quanto do Segundo Testamento. E até brincar com a palavras e os textos. Por exemplo, leia o Evangelho Segundo São João 9,21: Ninguém nunca ouviu falar de abrir os olhos de um cego de nascença. Ou Provérbios 12,9: “Melhor ser um ninguém e ainda ter um servo”.[5]
            Igrejas de Ninguém é (ou são) um bom modelo alternativo, não têm proprietários nem sócios, não têm donos, não há necessidade de programas midiáticos de expansão, não tem filiais nem agressivos pedidos de dinheiro, não tem metas de crescimento, nem promessas de milagres; nem o próprio “Deus” marca presença exclusivamente. Quando alguém passa na frente dessa igreja nem sabe que é uma igreja. Somente ao olhar para dentro poderá relacionar alguns símbolos. Se falarmos de igreja como corpo de Cristo, ela não é mesmo de ninguém. Faz muito sentido falar então em Comunidade de ninguém, uma “Cooperativa” cristã onde todo mundo é livre para ser criativa e produtiva[6], onde não há exclusão ou preconceito de qualquer natureza, onde ninguém não está obrigado a ser iniciado por nenhum rito. O questionado vínculo não é obrigatório, pois Jesus sugeriu que podemos encontrar boas pastagens tanto na saída quanto na entrada (João 10,9). Simples assim: “A minha casa de oração será chamada de oração para todos os povos” (Isaías, 57,6; Lucas 19,46).  The church is everybody’s church because it is nobody’s church.[7]



[1] http://churchofnobody.blogspot.com.br/
[2] http://www.gregwa.com/stnobody.htm
[3] http://somesmopalavras.blogspot.com.br/2011/07/um-nad.html
[4] http://www.adventistarchives.org/docs/AAR/AAR19700223-V74-08__C.pdf
[5] Tradução livre.
[6] http://www.spcworks.org/Article.asp?article_id=1509
[7] http://bradsheppard.net/2011/02/06/everybodys-church/