A expressão pós-modernismo surge
após a crise de identidade das ideologias do século XX, como reação ao
“moderno” (esteticamente, nas Artes; e no Capitalismo). A Modernidade se identifica
com a Revolução Industrial e com o Iluminismo. Portanto, a crítica que se faz
ao pós-modernismo como “iluminismo” tardio é incorreta. Em Filosofia e Teoria
Crítica, o pós-modernismo é a condição social que marca o fim da Modernidade. Ernest
Gellner considera três pontos no debate atual das mudanças sociais: o
Pós-modernismo, o Fundamentalismo religioso, e a Razão (o fundamento do
Iluminismo). Estamos vivendo no meio do debate dessas três questões mesmo sem
querer ou saber. O pós-modernismo, segundo ele, nega a existência de qualquer
verdade universal e questiona a cosmovisão que alega a universalidade. Mas seu
objetivo não é apenas rejeitar cosmovisões, senão rejeitar até mesmo a
possibilidade de própria cosmovisão (exigindo coerência). A dialética com os
demais autores consultados dará o entorno dessa síntese.
Segundo o filósofo alemão Jürgen
Habermas, o único favorecimento da modernidade foi incorporar os
princípios do racionalismo para dentro da vida pública e artística. Para
Habermas, o modernismo supera a razão iluminista. O movimento pós-modernista
representa a ressurgimento de longa duração de idéias contra-iluministas,
reafirmando que o projeto moderno ainda não está terminado e que a
universalidade não pode ser dispensada. Relaciona, por fim, a pós-modernidade
às tendências políticas e culturais neoconservadoras, determinadas a combater idéias iluministas.
Jean-François Lyotard entendeu a modernidade como a
condição cultural caracterizada pela constante perseguição (rumo à) ao
progresso. O pós-modernismo, nesse caso, representa o auge desse progresso,
onde a mudança constante se tornou o status quo e o progresso
rapidamente se tornou rapidamente obsoleto. Ele ainda argumenta que várias metas-narrativas
de progresso (positivismo, marxismo, estruturalismo) não mais se sustentam como
motores do progresso. E ainda, os grandes esquemas explicativos caíram no
descrédito (sistematização), posto que a ciência não poderia ser considerada
como a única fonte da verdade experimental (assim, relativa a
ciência).
Ludwig Wittgenstein, nessa linha de pensamento,
critica a possibilidade de progresso e conhecimento absolutos. Outros
identificam o pós-modernismo como “capitalismo tardio” ou “acumulação flexível”
na “sociedade líquida” (Zygmunt Bauman). Este autor ainda utiliza o termo “modernidade líquida”: uma
realidade ambígua, multiforme, cuja expressão foi inspirada na obra “Tudo
que sólido se desmancha no ar”. Por outro lado, o autor Gilles
Lipovetsky prefere o termo “hipomodernidade”, pois considera não haver
ruptura com a modernidade, que contém características mais exacerbadas de
individualismo, consumismo, hedonismo e fragmentação de tempo e espaço.
Enquanto o Modernismo e o
Cristianismo chocam-se na alegação da verdade, o pós-modernismo ataca o próprio
conceito de verdade. A verdade é aquilo que funciona para cada um (ortopraxia).
Nesse mundo pós-moderno o homem não recebe passivamente o conhecimento sobre o
mundo e a vida; é a chamada de “hermenêutica relativista”. A lógica, a ciência,
a história, a moralidade não são absolutas, são produtos da experiência
individual (subjetividade). A realidade é o que percebemos ser a realidade.
Cada um faz a sua realidade e seu destino. Quando Gellner situa os três
debates da sociedade atual, o aspecto mais contundente é o medo que o
fundamentalismo religioso tem de perder o controle sobre as regras religiosas
que mantêm os fiéis longe dos perigos do “mundo”. A pós-modernidade recoloca o
homem no mundo (veja a oração de Jesus Cristo no Evangelho de São João 17,15: “Não
peço que os tire do mundo, mas que os livres do mal”.). A teologia
pós-moderna não traz resposta, senão perguntas. O homem pós-moderno questiona
as respostas prontas e desconfia dos modelos autoritários de liderança
políticas e religiosas. Não existe fidelidade religiosa, partidária ou a algum
produto. A religião não é mais pública, pertence agora à esfera privada. O
Modernismo se caracterizava pela Transcendência; o Pós-modernismo, pela
Imanência. O homem volta ao centro do universo e o comanda. O Transcendente
está a serviço do homem. As pessoas querem optar pela sua própria forma de
espiritualidade sem serem incomodadas, sem tentarem impor sua fé para ninguém,
nem serem obrigados a aceitar a fé de ninguém. Aqui se apresenta o desafio para uma nova Evangelização. Como
fazer para evangelizar a Geração Y, que exige respostas imediatas, caso
contrário mudam para outras opções rapidamente? Se funcionar para mim, ótimo. E
a Geração Z, que prefere os contatos virtuais aos encontros pessoais, que não
vai mais à igreja? Quem pode dizer que os cristãos atuais obedecem apenas
aquilo que lhes interessa nos textos sagrados, quando buscam em Deus o
cumprimento das promessas que Ele fez algum dia? Na pós-modernidade, o Deus
cristão é meramente um refém das promessas que fez. A Teologia da Prosperidade
emerge na pós-modernidade com oferta de soluções rápida.
A Bíblia Sagrada, livro
sagrado do Cristianismo, também pode ser lida de forma pós-moderna (existe um
livro com esse título) e nos dá esclarecimentos sobre as diferentes formas de
leituras. Chama a atenção a leitura marxista, a leitura de gênero, a leitura do
ponto de vista do leitor. Essa leitura é subjetiva e existencialista. O
indivíduo pergunta o que o texto diz para ele nesta vida, sem se importar com o
que diz para o grupo. A verdade do texto é relativa a cada indivíduo. Não
podemos responder questões atuais com respostas de dois ou três mil anos atrás.
O mundo não é mais assim, existem outros problemas e questões não tratadas no
livro sagrado dos cristãos. E como encaramos os livros sagrados de outras
confissões de fé não cristãs?
O pós-modernismo entende todas as
confissões de fé como partes de uma mesma e única Verdade.
Aroldo da
Cruz Lara
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