“Um
pensamento, um fio de fumaça, uma coisa sem substância”: ninguém.[1]
Definição quase nova para Ninguém. Existem
diversas coisas para “ninguém”: cinema de ninguém,
crítica de ninguém, dicionário de ninguém, filosofia de ninguém. Ninguém são
pessoas (em latim, não quem, nenhum), outras pessoas. Na língua
portuguesa é um pronome indefinido. Mas não estamos falando meramente de um
jogo de palavras, antes de um pequeno movimento se que inicia em algum lugar do
mundo. Seria apenas mais um modismo? Religiosos, porém, reclamam que os sinos
dobram para ninguém (para as grandes celebrações das igrejas oficiais). A
crítica do magistério oficial, ainda, é que as igrejas de ninguém não estão
conectadas à tradição apóstolica. No Brasil, temos lembrança de conotações das
igreja de ninguém (dependendo do contexto): “não copiamos igrejas de ninguém,
não invadimos igreja de ninguém, não colocamos fogo em igrejas de ninugém, não falamos de
igrejas de ninguém”. Em Noank, Connecticut (USA) existe uma igreja chamada de Saint Nobody's Church (foto acima). [2]
Também
na literatura, poesia e na música, ninguém
serve de temas recorrente. A poetisa portuguesa e ainda desconhecida Paula Val declama
em versos brancos em seu blog:
Perco-me
em igrejas de ninguém
Mãos erguidas cheias de nada. [3]
Fred Alguém, Thomas Todo mundo,
Pete Qualquer Um e Ninguém Joe eram vizinhos. Todos os quatro pertenciam à
mesma igreja, mas você não poderia deixar de apreciar junto adorar com eles. Todo
Mundo foi pescar no domingo ou ficou em casa para se reunir com os amigos.
Qualquer Um queria adorar, mas era alguém com medo de falar com os demais,
assim ninguém ia à igreja com ele. Ninguém realmente foi o único digno dos quatro.
Ninguém fez a visitação, Ninguém trabalhou no edifício da igreja. Uma vez que
eles precisavam de um professor para escola dominical, Todo mundo pensou que Alguém
pudesse fazê-lo, e Todo mundo pensou que alguém pudesse ensinar. Adivinha quem
finalmente fez isso? É isso mesmo, Ninguém. Aconteceu que o vizinho de um incrédulo
passou a viver entre eles. Todos e Alguém acharam que deveriam tentar convertê-lo;
Qualquer um poderia ter feito, ou pelo menos, fez um esforço. Mas adivinha quem
fez? Ninguém, finalmente, o trouxe para Cristo!
Poderíamos
encontrar uma fundamentação bíblica ousada que servisse para justificar a
prática, tanto do Primeiro quanto do Segundo Testamento. E até brincar com a
palavras e os textos. Por exemplo, leia o Evangelho Segundo São João 9,21:
Ninguém nunca ouviu falar de abrir os olhos de um cego de nascença. Ou
Provérbios 12,9: “Melhor ser um ninguém e ainda ter um servo”.[5]
Igrejas
de Ninguém é (ou são) um bom modelo alternativo, não têm proprietários nem
sócios, não têm donos, não há necessidade de programas midiáticos de expansão,
não tem filiais nem agressivos pedidos de dinheiro, não tem metas de
crescimento, nem promessas de milagres; nem o próprio “Deus” marca presença
exclusivamente. Quando alguém passa na frente dessa igreja nem sabe que é uma
igreja. Somente ao olhar para dentro poderá relacionar alguns símbolos. Se
falarmos de igreja como corpo de Cristo, ela não é mesmo de ninguém. Faz muito
sentido falar então em Comunidade de ninguém,
uma “Cooperativa” cristã onde todo mundo é livre para ser criativa e produtiva[6],
onde não há exclusão ou preconceito de qualquer natureza, onde ninguém não está obrigado a ser iniciado
por nenhum rito. O questionado vínculo não é obrigatório, pois Jesus sugeriu
que podemos encontrar boas pastagens tanto na saída quanto na entrada (João
10,9). Simples assim: “A minha casa de oração será chamada de oração para todos
os povos” (Isaías, 57,6; Lucas 19,46). The church is
everybody’s church because it is nobody’s church.[7]
[1] http://churchofnobody.blogspot.com.br/
[2] http://www.gregwa.com/stnobody.htm
[3] http://somesmopalavras.blogspot.com.br/2011/07/um-nad.html
[4]
http://www.adventistarchives.org/docs/AAR/AAR19700223-V74-08__C.pdf
[5] Tradução livre.
[6] http://www.spcworks.org/Article.asp?article_id=1509
[7]
http://bradsheppard.net/2011/02/06/everybodys-church/
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