terça-feira, 7 de maio de 2013

"Igrejas de Ninguém" (Nobody’s Church)



 

“Um pensamento, um fio de fumaça, uma coisa sem substância”: ninguém.[1] Definição quase nova para Ninguém. Existem diversas coisas para “ninguém”: cinema de ninguém, crítica de ninguém, dicionário de ninguém, filosofia de ninguém. Ninguém são pessoas (em latim, não quem, nenhum), outras pessoas. Na língua portuguesa é um pronome indefinido. Mas não estamos falando meramente de um jogo de palavras, antes de um pequeno movimento se que inicia em algum lugar do mundo. Seria apenas mais um modismo? Religiosos, porém, reclamam que os sinos dobram para ninguém (para as grandes celebrações das igrejas oficiais). A crítica do magistério oficial, ainda, é que as igrejas de ninguém não estão conectadas à tradição apóstolica. No Brasil, temos lembrança de conotações das igreja de ninguém (dependendo do contexto): “não copiamos igrejas de ninguém, não invadimos igreja de ninguém, não colocamos fogo em igrejas de ninugém, não falamos de igrejas de ninguém”. Em Noank, Connecticut (USA) existe uma igreja chamada de Saint Nobody's Church (foto acima). [2]
Também na literatura, poesia e na música, ninguém serve de temas recorrente. A poetisa portuguesa e ainda desconhecida Paula Val declama em versos brancos em seu blog:

                        Perco-me em igrejas de ninguém
Mãos erguidas cheias de nada. [3]

            Mas, para ilustrar essa novidade, veja esta estória publicada em um jornal de 1970[4].

Fred Alguém, Thomas Todo mundo, Pete Qualquer Um e Ninguém Joe eram vizinhos. Todos os quatro pertenciam à mesma igreja, mas você não poderia deixar de apreciar junto adorar com eles. Todo Mundo foi pescar no domingo ou ficou em casa para se reunir com os amigos. Qualquer Um queria adorar, mas era alguém com medo de falar com os demais, assim ninguém ia à igreja com ele. Ninguém realmente foi o único digno dos quatro. Ninguém fez a visitação, Ninguém trabalhou no edifício da igreja. Uma vez que eles precisavam de um professor para escola dominical, Todo mundo pensou que Alguém pudesse fazê-lo, e Todo mundo pensou que alguém pudesse ensinar. Adivinha quem finalmente fez isso? É isso mesmo, Ninguém. Aconteceu que o vizinho de um incrédulo passou a viver entre eles. Todos e Alguém acharam que deveriam tentar convertê-lo; Qualquer um poderia ter feito, ou pelo menos, fez um esforço. Mas adivinha quem fez?  Ninguém, finalmente, o trouxe para Cristo!

Poderíamos encontrar uma fundamentação bíblica ousada que servisse para justificar a prática, tanto do Primeiro quanto do Segundo Testamento. E até brincar com a palavras e os textos. Por exemplo, leia o Evangelho Segundo São João 9,21: Ninguém nunca ouviu falar de abrir os olhos de um cego de nascença. Ou Provérbios 12,9: “Melhor ser um ninguém e ainda ter um servo”.[5]
            Igrejas de Ninguém é (ou são) um bom modelo alternativo, não têm proprietários nem sócios, não têm donos, não há necessidade de programas midiáticos de expansão, não tem filiais nem agressivos pedidos de dinheiro, não tem metas de crescimento, nem promessas de milagres; nem o próprio “Deus” marca presença exclusivamente. Quando alguém passa na frente dessa igreja nem sabe que é uma igreja. Somente ao olhar para dentro poderá relacionar alguns símbolos. Se falarmos de igreja como corpo de Cristo, ela não é mesmo de ninguém. Faz muito sentido falar então em Comunidade de ninguém, uma “Cooperativa” cristã onde todo mundo é livre para ser criativa e produtiva[6], onde não há exclusão ou preconceito de qualquer natureza, onde ninguém não está obrigado a ser iniciado por nenhum rito. O questionado vínculo não é obrigatório, pois Jesus sugeriu que podemos encontrar boas pastagens tanto na saída quanto na entrada (João 10,9). Simples assim: “A minha casa de oração será chamada de oração para todos os povos” (Isaías, 57,6; Lucas 19,46).  The church is everybody’s church because it is nobody’s church.[7]



[1] http://churchofnobody.blogspot.com.br/
[2] http://www.gregwa.com/stnobody.htm
[3] http://somesmopalavras.blogspot.com.br/2011/07/um-nad.html
[4] http://www.adventistarchives.org/docs/AAR/AAR19700223-V74-08__C.pdf
[5] Tradução livre.
[6] http://www.spcworks.org/Article.asp?article_id=1509
[7] http://bradsheppard.net/2011/02/06/everybodys-church/

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